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Gigantes da tecnologia temem aumento da regulamentação

Plano de desmembramento das grandes empresas do setor ganha força

SÃO FRANCISCO – Há uma década, quando a ganância e a falta de cuidado da indústria financeira quase destruíram a economia americana, a resposta da maioria foi perdoar e esquecer. Agora, a indústria da tecnologia cometeu erros – violação da privacidade, práticas desleais contra a concorrência e disseminação do ódio. Google, Facebook, Amazon e Apple podem não se livrar dessa tão ilesas quanto o Goldman Sachs.

A senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts, que pretende se candidatar à presidência pelo Partido Democrata, apresentou recentemente propostas que forçariam o desmembramento das empresas de tecnologia, impondo severas restrições às empresas remanescentes. Outra aspirante à candidatura democrata, a senadora Amy Klobuchar, de Minnesota, bate na mesma tecla. “Temos um grande problema envolvendo monopólios”.

Em um momento em que tudo nos Estados Unidos parece inspirar polêmicas, a reação a essas ideias foi surpreendentemente receptiva. “Temos que desmembrar essas empresas”, disse Elizabeth em um programa de notícias. O programa só encontrou uma pessoa crítica às ideias dela: o magnata Howard Schultz, do Starbucks, que pensa em lançar uma candidatura independente à presidência. “Bilionário, não é?” sublinhou Elizabeth.

Durante décadas, um político falando em leis “antitruste” estava essencialmente defendendo mais supervisão do governo, um território politicamente perigoso desde o governo Reagan. Leis “antitruste” eram tão impopulares quanto o “socialismo”, a “desigualdade de renda” e os “impostos mais altos para rendas mais altas”.

Não ajudou o fato de, nas ocasiões em que o Departamento de Justiça decidiu que uma empresa teria abusado do seu poder de monopólio, merecendo o desmembramento, os resultados terem sido variados. O governo desistiu de um processo desse tipo contra a IBM em 1982 depois de mais de uma década nos tribunais. Foi fechado um acordo com a Microsoft em 2001. Somente o caso contra a AT&T, que em 1982 concordou em dissolver-se em uma empresa de chamadas à distância e sete empresas regionais de telecomunicação, pode ser considerado um sucesso.

“Algo certamente mudou”, disse Geoffrey A. Manne, fundador do Centro Internacional de Direito e Economia, centro de estudos estratégicos com sede em Portland, Oregon. “A maioria dos eleitores gosta muito da Amazon, Apple, Google e até do Facebook. Mas acredito também que há um ceticismo cada vez maior em relação a todas essas empresas.”

Manne, que critica os argumentos antitruste contra o Google e recebeu financiamento da empresa e de algumas de suas concorrentes, escreveu que o plano de Elizabeth para transformar as empresas em “concessões de plataformas” as tornaria tão resistente às melhorias quanto os sistemas de saneamento.

Ainda assim, Manne concordou que talvez seja hora de aumentar a regulamentação. “Os Estados Unidos têm um longo histórico de uso do poder do estado para equilibrar o poder econômico de um empreendimento privado, mas esse histórico não é muito recente”, disse ele.

Mas Google e Facebook oferecem seus serviços de graça, enquanto a Amazon construiu sua reputação vendendo ao preço mais baixo possível. Isso dificulta sua regulamentação a partir de um consenso antitruste, que durante décadas sustentou que não há dano a não ser que os consumidores sofram diretamente, pagando preços mais altos.

Os consumidores percebem agora que pagam por esses serviços com a sua informação. Mas um novo levantamento realizado pelo site de notícias Axios revelou que metade das pessoas se mostraria contrária à ideia de pagar para que suas informações não sejam rastreadas por um serviço.

“O consumidor médio provavelmente tem a sensação de receber muitos benefícios gratuitos das grandes empresas de tecnologia, temendo o resultado de uma investida contra elas”, disse o especialista em legislação antitruste Daniel Crane, da Universidade de Michigan. Mas Crane observou que o desmembramento não seria a única preocupação dessas empresas. “A retórica em si pode complicar suas vidas e pressioná-las no futuro”.

Os comentários a respeito de possíveis processos antitruste também incentivam a concorrência. O Google controla boa parte do mercado de publicidade online na Austrália, o que representa um problema para o conglomerado jornalístico News Corporation, controlado por Rupert Murdoch e dono de oito dos 10 maiores jornais do país. Em meados de março, o grupo pediu às autoridades australianas que desmembrassem o Google no país por causa do “poder sem paralelo exercido atualmente pela empresa contra veículos de notícias e anunciantes”.

Os consumidores gostam de inovação, e não de valentões. A Amazon não foi capaz de deixar de lado a intimidação na sua tentativa já fracassada de construir uma sede em Nova York, e o Facebook, de maneira semelhante, fracassou ao tirar do ar as publicações de Elizabeth na plataforma queixando-se do excesso de poder da empresa.

Alegando que a publicação violava o uso do seu logotipo, o Facebook logo restaurou as mensagens da senadora, mas o estrago estava feito. “Querem saber por que acho que o FB tem poder demais?” publicou Elizabeth no Twitter. “Vamos começar com a sua capacidade de impedir um debate a respeito do excesso de poder do FB.”

Fonte:
https://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,gigantes-da-tecnologia-temem-aumento-da-regulamentacao,70002771601

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