A limitação desse tipo de aparelho se dá principalmente porque ele usa uma tecnologia não invasiva – ou seja, que fica do lado de fora do cérebro. “Isso faz com que o sistema fique muito ruidoso, porque ele está distante e tem muitas coisas acontecendo no cérebro. Ele não tá pegando informação de um neurônio específico”, explica Adam Moreira, doutorando do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em São Carlos (SP) e pesquisador do tema.
O grande desafio é conseguir produzir dispositivos que consigam captar e digitalizar com precisão os sinais elétricos do cérebro e que possam ser implementados na cabeça sem prejuízos à saúde.
Muita gente está empenhada em desenvolver essa tecnologia menos invasiva e, assim, conseguir interações mais precisas entre cérebros e máquinas – ou até conversas somente pelo pensamento. Agência de tecnologia da defesa americana, a Defense Advanced Research Projects Agency (Darpa) é uma das pioneiras e trabalha com BCI desde a década de 1970. Um dos grandes projetos da agência nessa área é o Silent Talk, que prevê a comunicação de soldados de forma telepática, sem necessitar da fala.
O Facebook também se dedica a projetos desse tipo. A companhia está fazendo investimentos para que, em breve, você possa postar na rede social sem precisar digitar ou mesmo falar. Bastaria apenas pensar.
O bilionário e “guru” tecnológico Elon Musk é outro que aposta nessa tecnologia. A Neurolink, startup criada por ele para desenvolver soluções em BCI, tem uma meta ambiciosa: implantar no cérebro um minúsculo sensor com fibras mais finas do que um fio de cabelo por meio de uma pequena incisão feita por um robô, construído especificamente para essa tarefa.
Por enquanto, o objetivo da Neurolink é fazer com que uma pessoa possa controlar o smartphone apenas com o pensamento, mas a tecnologia poderá se estender para outros aparelhos, como braços mecânicos. Em uma apresentação realizada em julho deste ano, Musk disse que pretende fazer o primeiro implante em um humano já em 2020.
Um dos objetivos mais promissores do desenvolvimento de BCI, e o alvo inicial de Musk, é aplicar a tecnologia no tratamento de paralisias e doenças cerebrais. A medicina é uma das áreas que mais beneficiadas pela interface cérebro-computador, especialmente em pesquisas que buscam devolver o movimento a pessoas que perderam membros ou sofrem de paralisias.
Adam Moreira, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em São Carlos (SP), explica que, para realizarmos qualquer movimento, um estímulo é enviado ao cérebro para que ele processe essa informação e faça o membro reagir.
“Isso acontece em uma fração de segundo, mas a gente consegue capturar essa informação, esse estímulo, e passá-la para um braço robótico ou para um exoesqueleto”, diz. Dessa forma, a prótese ou o exoesqueleto realiza o movimento de forma bastante semelhante à natural.
Essa tecnologia está muito próxima de ser concluída, mas sua comercialização enfrenta o entrave do custo. Um robô ou um exoesqueleto que faça esse movimento ainda é muito caro. “Custa na casa de R$ 500 mil a R$ 1 milhão”, detalha Moreira. A boa notícia é que há estudos já avançados para criar próteses bem mais em conta. “Acredito que, daqui uns dois anos, a gente terá próteses baratas já com essa tecnologia embutida”, afirma o pesquisador.
A interface cérebro-computador, em aplicações como essa que recuperam movimentos humanos, não lê pensamentos, somente os estímulos cerebrais. Entretanto, a perspectiva de que ela possa avançar para modelos como a conversa telepática ou a interação direta entre cérebro e dispositivos eletrônicos torna necessário refletir sobre limites éticos.
“Não é barrar a evolução da tecnologia, mas pensar em todas as contradições que ela traz. Hoje a gente fala muito em privacidade dos dados. No futuro, vamos falar sobre a privacidade de pensamentos? São questões que a gente leva em consideração”, pondera o professor da PUC-SP Diogo Cortiz.
Questionamentos como esse já estão sendo debatidos pelos pesquisadores, que buscam encontrar o equilíbrio entre o avanço tecnológico e as consequências reais para a sociedade. “Assim como há regulamentação para a indústria automobilística fazer um carro, o mesmo precisa ser aplicado para a área da tecnologia. Entender e discutir o limite ético de uso dessas aplicações. Isso não está restrito ao BCI, avança em todas as tecnologias emergentes”, afirma Cortiz.
Fonte: https://glo.bo/2pWhJzC